sábado, 1 de junho de 2013

Das antigas, tecnologia

Com um copo de água na mão, quase derrubei tudo como de costume. Estava virada de costas e a senhora estava sentada, magra, de pernas cruzadas, naquelas cadeiras onde os cabeleireiros lavam os cabelos das pessoas naquele processo todo antes de cortar.

- Onde é que aperta aqui para eu colocar o 21 antes do telefone? - disse ela.
Engoli o resto e vi que ela falava comigo.
- O que a senhora precisa? - perguntei.
- Sabe, aqui óh, eu preciso colocar o 21 antes do DDD 11 mas eu não sei andar para trás com isso aqui e...
(os teclados faziam um barulho tão alto e antigo que dava para ouvir da outra sala do salão)
- Olha só, com licença, posso ver para a senhora? - perguntei.
Já fui pegando o celular, pequenininho e antigo, mas funcional. Ligações e mensagens:check.
- A senhora aperta aqui oh que ele vai andando para trás e aí é só digitar o 21 entre o 0 e o 11.
- Ahhhhhhhhhh isso mesmo, como chama isso, cursor né? Olha sóooooooo! Foi!
(ela me mostrou o status: mensagem enviada).
- Que bom! - completei.
Ela saiu falando alto para outra moça que tinha conseguido enviar a mensagem.

Atravessei a porta e sentei na cadeira, esperando ser chamada para fazer a unha. Olhei para o lado uma criança japonesinha, o que já me chama atenção sempre. Crianças japonesas, rostinhos redondos, franjinha de índio, pode isso! Ela estava lá, com as mãozinhas esticadas e o pé também, os dois, cheio de papel entre eles de como quem espera secar o esmalte. Olhei, sorri e ela também. Tinha só dois dentinhos na frente, os dois caninos, o resto era uma janelinha de criança. Francesinha, branquinha, ela escolheu passar. Fez pés, mãos, e estava ali já há mais de uma hora sentadinha...criança.

Terminou e ficou olhando fixamente porque eu passava um esmalte de cada cor na unha, para escolher um deles. Olhou e cansou. Abriu sua revista de origamis e perguntou à mãe se iriam brincar disso ainda hoje.
"sim", disse a mãe.
- Mas mãe, a gente não ia ao shopping? - questinou.

Eu comecei a rir, ela olhou...escorregou na poltrona e disse que estava com sono, tinha dormido pouco.

Dei trela e ela me contou a história toda de uma vez só como criança, de 6 anos, Bruna:
- Eu não dormir essa noite acordei no meio da noite passando mal aí que eu tava com dor de barriga aí eu passei mal fui pro quarto deitar com minha mãe e meu pai aí ele me disse que ia me levar pro hospital eu falei nãaaaaao pai aí eu melhorei não passei mais mal mais não dormi bem a noite e depois dormi pouco e também acordei cedo e agora eu tô com sono!

Todo mundo do salão inteiro indo até ela, pedindo para mostrar as unhas feitas. Todo mundo achando lindo!

Só eu parei para imaginei que dali 2 minutos ela iria bater e estragar tudo, porque ia no shopping fazer origami dormir acordar pular brincar de tudo, ter medo de médico, rir, brincar de qualquer outra coisa ter dor de barriga, menos de ser gente grande?

Cursor. Velho no novo, novo no velho.



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