quinta-feira, 27 de junho de 2013

Me dá mais nuvens

Ás vezes fico me perdendo em nuvens, no gerúndio.
Aí fico tentando me achar em raízes, no plural.
Mas daí não me basto nos tempos, verbais nenhum.
Eu não gosto do gosto da regra, e ainda acredito da exceção disso e daquilo.

No descompasso, da novidade que vem com outro nome.
Vem que tem que leva que anda-lhe.
De um dia assim
Depois quem sabe.

De hoje em diante não tem mais calendário nem em vão
não tem lendas, não tem mais ficção, só coração
que se esbarra
na lente dos óculos escuros, pra ver de longe e sentir de perto.

Sobra compasso
Na contagem da credibilidade das palavras em construção.

Dentro do vão, tem uma nesga de luz tão forte
Que me ruma pro norte quando não tenho sorte.

Acreditando no espaço
no alçar
no ventilar
nas margens de um rio que nunca é o mesmo
no levantar
Alcançando a iris
Me dá mais nuvens

domingo, 9 de junho de 2013

Na batida do coração

São milhões de sentimentos num refrão só.

Música também pode se tornar parte da sua dieta quando você sabe para o que ela serve, no momento certo. As doses certas de estilos corretos podem tirar seu pensamento do mundo, do trânsito, da caminhada, da leitura, de qualquer ação que esteja fazendo, e te levar para outro espaço da memória. Perto de um dia, de um cheiro, de um lugar que já passou ou que ainda quer passar mas não sabe bem onde é ou está. Não dá aquela vontade de abrir as janelas e berrar alto de tão forte que toca lá dentro da gente?

Dentro da gente é que está a batida perfeita.

Canções sejam elas de tamborins a guitarras, o sentimento que nos traz é só nosso. Peculiar, são fotografias. São lapsos de algo que só você sabe traduzir em versos, sorrir, chorar. Elas não se vão, não morrem, não envelhecem, não cheiram poeira, não são fora de moda, não interessa em que ano foram lançadas. Se eram vinis, se eram discos, CD, mp3, se hoje não são tocáveis mas apenas audíveis. O significado continua sendo o mesmo e é aí que está a delicadeza das notas.

Ouvir o mais alto possível é gritar lá dentro. Dá para abrir os vidros, ou dá para fechar as portas. Dá para enfiar um fone o mais perto possível do seu tímpano e o set list te fazer correr uma maratona inteira. Dá para regar jarras quando doem, dá para sorrir quando estão próximas do futuro. Sabe, aquele que a gente conduz na batida do significado.

É um sambinha que te carrega
É um rock que te liberta
É um pop que te desperta
É uma mpb que te acalma
É um funk que te ri
É um heavy que te grita
É um clássico que te introspecta




sábado, 1 de junho de 2013

Das antigas, tecnologia

Com um copo de água na mão, quase derrubei tudo como de costume. Estava virada de costas e a senhora estava sentada, magra, de pernas cruzadas, naquelas cadeiras onde os cabeleireiros lavam os cabelos das pessoas naquele processo todo antes de cortar.

- Onde é que aperta aqui para eu colocar o 21 antes do telefone? - disse ela.
Engoli o resto e vi que ela falava comigo.
- O que a senhora precisa? - perguntei.
- Sabe, aqui óh, eu preciso colocar o 21 antes do DDD 11 mas eu não sei andar para trás com isso aqui e...
(os teclados faziam um barulho tão alto e antigo que dava para ouvir da outra sala do salão)
- Olha só, com licença, posso ver para a senhora? - perguntei.
Já fui pegando o celular, pequenininho e antigo, mas funcional. Ligações e mensagens:check.
- A senhora aperta aqui oh que ele vai andando para trás e aí é só digitar o 21 entre o 0 e o 11.
- Ahhhhhhhhhh isso mesmo, como chama isso, cursor né? Olha sóooooooo! Foi!
(ela me mostrou o status: mensagem enviada).
- Que bom! - completei.
Ela saiu falando alto para outra moça que tinha conseguido enviar a mensagem.

Atravessei a porta e sentei na cadeira, esperando ser chamada para fazer a unha. Olhei para o lado uma criança japonesinha, o que já me chama atenção sempre. Crianças japonesas, rostinhos redondos, franjinha de índio, pode isso! Ela estava lá, com as mãozinhas esticadas e o pé também, os dois, cheio de papel entre eles de como quem espera secar o esmalte. Olhei, sorri e ela também. Tinha só dois dentinhos na frente, os dois caninos, o resto era uma janelinha de criança. Francesinha, branquinha, ela escolheu passar. Fez pés, mãos, e estava ali já há mais de uma hora sentadinha...criança.

Terminou e ficou olhando fixamente porque eu passava um esmalte de cada cor na unha, para escolher um deles. Olhou e cansou. Abriu sua revista de origamis e perguntou à mãe se iriam brincar disso ainda hoje.
"sim", disse a mãe.
- Mas mãe, a gente não ia ao shopping? - questinou.

Eu comecei a rir, ela olhou...escorregou na poltrona e disse que estava com sono, tinha dormido pouco.

Dei trela e ela me contou a história toda de uma vez só como criança, de 6 anos, Bruna:
- Eu não dormir essa noite acordei no meio da noite passando mal aí que eu tava com dor de barriga aí eu passei mal fui pro quarto deitar com minha mãe e meu pai aí ele me disse que ia me levar pro hospital eu falei nãaaaaao pai aí eu melhorei não passei mais mal mais não dormi bem a noite e depois dormi pouco e também acordei cedo e agora eu tô com sono!

Todo mundo do salão inteiro indo até ela, pedindo para mostrar as unhas feitas. Todo mundo achando lindo!

Só eu parei para imaginei que dali 2 minutos ela iria bater e estragar tudo, porque ia no shopping fazer origami dormir acordar pular brincar de tudo, ter medo de médico, rir, brincar de qualquer outra coisa ter dor de barriga, menos de ser gente grande?

Cursor. Velho no novo, novo no velho.