terça-feira, 14 de maio de 2013

Orelhas

Pequeno, até o meu joelho. Os olhos, grandes e um tom verde que não saberia descrever.
Olhou para mim, na porta do hortifruti, em pleno domingo de sol seco começo de outono céu lindo. 
Compras clássicas, para iniciar a semana. Mas ele não. Estava próximo ao pai, mexendo em algo que não sei o que era, pois o que meu chamou a atenção foram suas orelhas. Pretas, como um tiara, acima da cabeça. Ele estava de orelhas de Mickey  domingo. Não sei sei nome, não sei quantos pequenos anos tem, não sei onde mora, nem sei se ele prefere groselha ou brócolis, improvável. Se estava indo passear ou se o passeio era lá. Só sei que eu passei por ele, olhei por segundo nos olhinhos, e comecei a rir por conta das orelhas.

Não conseguia escolher nada do que eu queria pensando na possibilidade daquele lugar estar cheio de adultos e cada um fantasiado do personagem que mais gosta. Ou com uma parte da fantasia do seu personagem favorito. Me peguei rindo de novo. Pensando no mundo das crianças, que tornam tão simples seus sonhos, vão lá e fazer acontecer, com objetos de plástico, que representam sua vontade de ser outro ou de imaginar que podem ter poderes especiais.

Fiquei pensando que tipo de herói ou heroína eu gostaria de ser. Que peça representativa eu iria usar, num domingo de manhã, para ir até o hortifruti. Lembro do 'Ensaio sobre a Cegueira', branca, que ninguém vê ninguém, que o caos se torna o único objeto de euforia. As prateleiras devastadas pela ânsia do ser humano e imaginar a fome, tão perto. Nisso tudo, imagina se o caos fossem as fantasias? Que cor seria a sua? A minha? Do que eu me vestiria? 

2 comentários:

  1. Esse post me lembrou alguém que conheço, no primeiro contato, ou nas primeiras linhas, é doce e sensível. Porém, ao se conhecer melhor, ou nas linhas seguintes, percebe-se que, além de doce e linda, é profunda como um oceano.

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  2. Você virou escritora e não fala mais com os apertadores de prego, mas não pare de escrever por aqui =]!
    Passar bem.

    Bruno.

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