segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A loja de fantasias

Quando como uma criança, que entra dentro de um parque de diversões e sai correndo em busca da roda gigante mais alta. Quase a escolher as cores do algodão doce antes mesmo de ganhar de brinde. Acho que foi assim que me senti ao entrar na loja de fantasia alguns dias atrás. Já sabia o que eu queria, mas o fato de entrar em um lugar desses pela primeira vez em minha vida, me fez lembrar de quando eu gravava em fitas cassetes, cenas específicas de filmes de que eu mais gostava. Lembrei nitidamente da cena curta e que emocionava sempre de 'Dormindo com o Inimigo', quando a Julia Roberts saia do palco e entrava em um porão e lá passava a vestir inúmeras fantasias, máscaras, perucas, e ao fundo a música Brown Eyed Girl, do Van Morisson. Ela ria mas ria tanto e de um jeito tão gostoso pro mundo, que eu jurava para mim, na época, que também ia construir meu porão de fantasias ao longo da minha vida.

Não sei quanto a gente sabe se despir de todos esses sonhos, fato é que lembrei de todos eles dentro da loja de fantasias. Passei mais de duas hora lá dentro olhando cada arara, sentindo aquele cheiro de ilusões que tem o lugar. Mais do que isso, é o cheiro de lavanderia lá dentro. fato. Afinal, todas as vestes estão cheirosas e vindas diretamente de máquinas de lavar que tiveram a felicidade de se encontrar com aquelas roupas que com certeza, tiraram sorriso de muitas pessoas durante algumas horas.

Dois andares de pura emoção. Perguntei às atendentes o quanto de histórias elas não tinham para contar. Elas sorriram e disseram que eram muitas, eu sorri, e disse que este é o tipo de trabalho que faz bem para alma, todos os dias. São salas e salas que não têm fim, e os temas são separados por épocas e séculos. Tem de marinheiros a roupas quentes e imensas de ursos peludos. Na entrada existem pastas e pastas, como um catálogo, que se folheia folheia até você se identificar com algo que combine com você. E o que combina com a gente? Fiquei encostada no balcão enquanto ela fazia meu cadastro e fiquei imaginando onde aquelas pessoas todas, com a loja lotada, estariam indo nos próximos dias ou finais de semana serem felizes.

Um sentimento de nostalgia de algo que nunca tive, da construção de um personagem que estaria a se formar na próxima semana e na expectativa da vida, que é colocar emoção e esperança nas escolhas que fazemos. Lembrei dos palcos, e de quando eu estudava a construção dos meus personagens no teatro, nas escolhas certas das falas, gestos, vestes, cabelos, tons de voz e tudo. Fiquei ali colocando vontade de ser uma personagem para aquele meu vestido de bolinha, da garota vestida para um baile nos anos 60. Criando versões engraçadas de mobilidade para aquela minha fantasia. Ganhei um saquinho extra, cheio de acessórios como luvas, óculos de sol, fitas e um belo colar de falsas pérolas. Ainda passei por mais alguns corredores, me perguntando se realmente era aquele o vestido que eu queria usar. Tive tanta certeza que nem provei outras opções, só fiz graça em frente ao espelho, enquanto um moço desfilava de Peter Pan e uma moça de espanhola.

O aluguel tinha desconto. Na conta, somei felicidade, coloquei um pouco mais de ilusão, enquadrei expectativa, botei música, limpei as lentes, somei saudade, pensei em festa, juntei sorrisos, e saí de lá com a conta paga. O valor do dinheiro, de longe, não pagava essa ânsia de esperar.

Deixei o vestido pendurado no melhor ângulo branco da minha parede. Para ver todos os dias. E somar um pouquinho mais de vontade e expectativa.

A festa chegou, a luz apagou, e a música parou. Passa rápido.

Hoje fui devolver minha fantasia, 5 minutos antes da loja fechar as portas. Só tinha eu lá dentro. E mais três vendedoras conferindo notas e perguntando de quem eram aquelas fantasias penduradas. Me deu o nó na garganta, de saber que tive que me despir da personagem, deixar suas expectativas, e voltar a ser Juliana.
O óculos escuro também ficou por lá.